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História

Alegria, Luz, Graça, Talento... Atrás do rosto de um palhaço tem história, história de amor à arte. Como a história do Circo Irmãos Queirolo:

Na metade do século XIX, Giacomo Queirolo, um açougueiro uruguaio que morava em Gênova na Itália, emigrou para a Argentina com seus três filhos: Antônio, Júlio e José. José Queirolo (1849-1900) acabou se tornando cantor, inclusive considerado um dos melhores de Montevidéu, no Uruguai. Ele foi convidado pelo governo para estudar na Itália. Mas havia algo que prendia o cantor no Uruguai, seu nome era Petrona Salas (1852-1939).

Eles haviam se conhecido cantando a ópera “Marina”, de Emilio Arrieta. Ambos fizeram o público vibrar, pois faziam uma bela dupla: ele como barítono e ela contralto. No dia 10 de outubro de 1881, se casaram na Iglesia Nuestra Señora del Socorro, em Buenos Aires.

Ambos fizeram diversas apresentações, no Uruguai e na Argentina, com os primos de José, “Los Hermanos Podestá”, que difundiram o circo-teatro na Argentina e Uruguai. O casal teve nove filhos: Francisco, Alcides, Irma (avó da nossa grande atriz Bibi Ferreira), José Carlos, Aída, Maria Ester, Julian (Harris), Otello (Chic-Chic) e Ricardo. Com as viagens, os filhos acabaram nascendo em lugares diferentes do Uruguai e da Argentina.

Surgiu então uma oportunidade de realizar uma grande excursão pela Europa. Porém foi um fracasso. Quando chegaram em Barcelona, o empresário fugiu, deixando todos sem dinheiro, inclusive os demais artistas da Companhia Dramática Argentina, deixando todos completamente desorientados.

Nesse tempo os Queirolo cantavam, dançavam e faziam o público rir. Assim foram contratados por um pequeno circo de nome Circo Feijó. Durante dois anos sobreviveram ganhando pouquíssimo dinheiro com esse circo, realizando apresentações em Portugal e na Espanha. Com a experiência adquirida como acrobatas, o desejo dos dois foi de transmitir os ensinamentos para os filhos.

Nascia assim o Grupo dos Seis Irmãos Queirolo. Voltando para Barcelona, conseguem trabalhar na Praça de Touros. Quando começaram a se tornar grandes artistas, o pai José Queirolo faleceu, no ano de 1900. A partir desse momento, eles ficam sob a direção do irmão mais velho, Francisco. Da Praça de Touros, eles vão rumo a França fazer uma turnê, visitando todas as cidades vizinhas de Paris.

Com essa célebre turnê, ficaram tão famosos que foram contratados diretamente de Berlim para o Circo Albert Schumann, em 1905. Após se apresentarem por um ano na Alemanha, voltam para Barcelona e depois rumo aos EUA. Lá se apresentam no Teatro Hipódromo de Nova York (Hippodrome Theatre) e nos circos Barnum and Bailey e também no Ringling Brothers.

Após a excursão pelos EUA, são novamente convidados para voltar pra Alemanha, dessa vez se apresentando em um dos mais importantes casinos de Berlim, o Wintengarten. Depois disso se apresentam em Lisboa – Coliseu dos Recreios (1906), Barcelona – Gran Teatro Soriano (1907), Paris – Nouveau Cirque  (1907) e Málaga (1909). Após 8 anos na Europa, voltam para a América do Sul, na Argentina.

“Os maiores acrobatas do mundo” enfim chegam no Brasil. Em 1911 realizam uma apresentação no Teatro Amazonas. Depois em 1915 se apresentam no Teatro República, no Rio de Janeiro. Em 14 de Julho de 1917, na Praça Saens Pena, Rio de Janeiro – até então Capital Federal – compram o Circo Spinelli (por 15 contos de réis) e inauguram o Circo dos Irmãos Queirolo, com sua clássica maquiagem de caracterização.

Além do circo, criam a Banda do Circo Irmãos Queirolo, tradição que durou por mais de 80 anos, com seus dobrados, valsas, marchas, maxixes, que em 1942 passou a denominar-se Jazz Queirolo e, posteriormente em 1960 transformada por Lafayette e Sérgio Queirolo na Bandinha dos Palhaços, a primeira do gênero no Brasil, que durou até o final da década de 90. Famoso como era, o Circo percorria os estados brasileiros, deixando a marca pioneira da aventura e da emoção por onde passavam.

A família inteira viajava, sem impedir que as crianças estudassem, respeitando as férias escolares ou deixando-as por períodos em colégios internos. Essas turnês, fizeram com que os filhos, nascessem em lugares diferentes.

As crianças (Lídia, Ricardo, Lafayette, Henricredo, Sérgio e Julião) filhos de pais acrobatas e treinando com Otello as técnicas de equilíbrio (Lídia conseguia dar 31 saltos em 24 segundos, cronometrados pela primeira vez por Grande Otelo), faziam imenso sucesso: são os primeiros artista brasileiros a se apresentarem com os números: Maroma, Icárius e Dandis.

Chamados de Os Cinco Diabos Brancos, eram os responsáveis pelo suspense e o delírio das plateias dos mais famosos cassinos do país: URCA no Rio de Janeiro, Atlântico e Ilha Porchat em Santos, Quitandinha em Petrópolis, Icaraí em Niterói, Ahú em Curitiba, Pampulha e Minas Tênis Club em Belo Horizonte, URCA em Poços de Caldas.

Dirigidos por Otello (Chic-chic), Julian (Harris) e Ricardo, em 05 de outubro de 1942, inauguram em Curitiba, o Pavilhão Carlos Gomes, local que se tornou um dos centros de recreação mais marcantes da época, e que traduzia o espírito dessa família.

Apoiados por uma infraestrutura que permitia ao cenário subir integralmente na vertical sobre um palco assoalhado, levaram ao povo a cultura clássica, representada por pantominas, peças célebres (nacionais ou internacionais) ou da atualidade, criadas em cima de fatos reais como as folclóricas “Burletas” (verso, canto e diálogo) que versavam sobre temas regionais. Faziam absoluto sucesso, arrancando lágrimas com: “O Direito de Nascer”, “A Escrava Isaura”, “Mestiça”, “O Morro dos Ventos Uivantes”, “Os Pobres de Paris”, “Em Cada Coração um Pecado”, “E o Céu Uniu Dois Corações”, “Sétimo Céu”, “O Mundo não me Quis” e “Deus Lhe Pague”.

Em épocas de festividades sacras, só encenavam peças do gênero: “O Sinal da Cruz”, “Helena de Tróia” (que contava com um cavalo de cinco metros em cena), “Sansão e Dalila”, “Marcelino Pão e Vinho”, “Paixão de Cristo” e “Quo Vadis” (onde muita gente reconheceu que Julian Queirolo como Nero, nada ficava a dever a Peter Ustinov, no filme de 1951).

Roubavam ainda a emoção do público adulto e infantil com: “Peter Pan”, “Cinderela”, “Branca de Neve e Os Sete Anões”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Zorro”, “Batman” e “Capitão América”.

Ou levavam o público à estrondosas gargalhadas com comédias feministas como: “O Domador de Mulheres”, “Casas para Morrer”, “O Maluco da Cidade”, “O Fabricante de Linguiça” e “Visita do Além Túmulo”.

Se nas telas dos cinemas, os telespectadores se assustavam com filmes de terror, os Queirolo apresentavam o Teatro do Horror, equilibrando o medo com o humor em: “Drácula”, “O Médico e o Monstro”, “A Múmia”, “Dr. Frankenstein”, além de terem feito diversos Bailes do Horror na cidade de Curitiba, utilizando efeitos cênicos aprimoradíssimos.

No Pavilhão havia de tudo: das touradas às famosas lutas (masculinas e femininas) como Tarzan e Argones, com a participação de renomados boxeadores como Kid Jofre. Dividia-se o palco com consagrados artistas da Rádio Nacional: Mazaropi, Renato Murci, Eliana Pittman, Dalva de Oliveira, Erivelto Martins, Linda Batista, Orlando Silva, Alvarenga e Ranchinho, Grande Otelo, entre outros.

Acompanhados pela banda, nessa época, Jazz Queirolo, verdadeiro show de música moderna, inclusive regida em 2 apresentações pelo saudoso Maestro Bento Mossurunga.

Além de todas essas peças, tinha a apresentação da impagável dupla Harris ( fazendo o papel do clown ou branco) e Chic-chic (fazendo o papel do augusto), interpretados respectivamente pelos irmãos Julian e Otello.

Em 1956, finalmente, instalam-se definitivamente em Curitiba, no bairro do Portão, com turnês pelos bairros da cidade, onde ficam até 1968, pois em 18 de outubro, uma violenta tempestade destrói totalmente o Circo, deixando registros fotográficos e algumas relíquias guardadas carinhosamente como o valioso guarda-roupa, montado ao longo dos anos.

Mas, se a história não para, como é que o circo pode parar?

Essa não foi a primeira vez que a família tinha seu circo destruído. Outras tragédias já haviam ocorrido anteriormente e não seria isso que faria com que eles parassem de se apresentar. Por exemplo, um ano antes, quando Otello (Chic-chic) faleceu, no dia seguinte uma peça era encenada em sua homenagem. A família Queirolo continuou sua arte, a comunicação direta com o público, gerando novos sucessos:

Realizam a I Chegada de Papai Noel em Curitiba, com carros alegóricos e pequenas encenações na marquise de uma empresa, trazendo alegria para as ruas. Papai Noel também chega em Ponta Grossa de trem. Em Blumenau, uma chegada pelo Rio Itajaí, numa barca, é uma recordação inesquecível.

A participação das mulheres no Circo Irmãos Queirolo foi sempre marcante: acrobatas, bailarinas, atrizes, coreógrafas, figurinistas, maquiadoras, personificando bonecos, onde quer que atuem correspondem somando com o estímulo, compreensão e amor às atividades da envolvente vida circense. No final da década de 20 e início da década de 30, foram pioneiros ao realizar apresentações de futebol feminino, inclusive fazendo parte do acervo da sala "origens" no museu do futebol em SP Porém em 1941, um Decreto de Lei do governo de Getúlio Vargas, proibe às mulheres a prática esportiva.

 Os Queirolo também foram pioneiros na televisão, com o primeiro programa ao vivo no estado do Paraná, o Cirquinho Canal 6.  Por esse motivo, em 20/10/1960, ganham o Troféu Pioneiros de Átila José Borges. Faziam novelas: “Fiorella” (no elenco toda a Família Queirolo) e “No Reino Encantado de Papai Noel”, teleteatros sob a direção de Roberto Menghini.

Colaboraram no programa Entre Nuvens e Estrelas, onde recebem o Troféu Santos Dumont, outorgado pela comissão de alto nível do Centenário Santos Dumont, do Ministério da Aeronáutica, além de Diploma de Participação concedido pela FAB.

Com o Circo Chic-chic, operavam em 2 canais de TV, simultaneamente, mantendo intensa audiência. O Clube do Capitão Furacão (interpretado por Sérgio Queirolo) era levado ao ar diariamente, ao vivo, dando uma nova dimensão na época para o gênero na televisão, inovando com o famoso Concurso de Fantasia, às sátiras das Lutas Cômicas do Telecatch.

Na Orquestra do Idílio, Lafayette tocava sax e clarinete e sua esposa Zefe era crooner.

Entre outras lembranças, o convite, de representarem os artistas circenses brasileiros no enterro de Eva Peron, pelo Governo Argentino. E os Sambas-Enredo dos quais foram motivo: “E o Circo não Morreu” (Nelson Baltazar), “E Eles Voltaram” (Jourdan).

Em 30 de outubro de 1976, inauguram o Circo Chic-chic, em uma lona armada no Parque Barigui, com o apoio da FUNARTE, do MEC, da Fundação Cultural de Curitiba e da Prefeitura Municipal. Depois de dois anos, após o falecimento de Sérgio e o agravamento das dificuldades financeira, Lafayette acaba devolvendo a lona para a Fundação Cultural de Curitiba.

Já a lista de troféus é imensa, das quais, alguns registros históricos: Troféu Comunicação da Cidade – Melhores do Ano (1979), Troféu Gralha Azul (Cinderela, Melhor espetáculo infantil de 1975/1976 no Grande Auditório do Teatro Guaíra), Troféu - I Centenário do Teatro Guaíra - Chic-chic Jr., Comenda cavalheiros da Ordem de São Francisco (pelo espetáculo público “Via Crucis”, realizado juntamente com a Fundação Cultural de Curitiba e por ela homenageados), Troféu Santos Dumont, Troféu Pinhão de Ouro, Troféu Imprensa do Paraná, Troféu Gazetinha (Melhor direção), Comenda da Ordem da “Boca Maldita”. Em 1989, Lafayette ganhou os títulos de Cidadão Honorário da Cidade de Curitiba e do Estado do Paraná. Em 1995, a família foi homenageada pelo Banco Bamerindus na série “Gente que faz” que era exibida em horário nobre, na Rede Globo de Televisão. Entre outras homenagens, Otello e Sérgio Queirolo viraram nomes de ruas. Já Lafayette foi homenageado com uma praça em seu nome. Em 2003, a família teve uma exposição no Museu Paranaense, na sala “Personagens Paranaenses”.

Outras homenagens recebidas foram: Sesc Educação Infantil “Espaço Recreativo e Cultural – Palhaço Gafanhoto” – Curitiba; Sesc “Espaço Recreativo e Cultural – Circo Chic Chic Jr.” – Ponta Grossa; Homenagem da RPCTV ÓTV Programa “Passado e Presente” gravado dia 24/01/2012 com o repórter Fernando Parracho.

Na história da Família, um traço em comum: os espetáculos e apresentações beneficentes. É costume dos Queirolo, sem receio de contrair qualquer doença, levarem alegria aos sanatórios, às crianças dos orfanatos e carentes, aos presídios e casas de correção, aos idosos dos asilos.

Após o falecimento de Lafayette (01/05/1996), sua filha Marilene e seu genro Paulo criaram em 1997 a Queirolo e Buch LTDA, uma nova empresa para manter a tradição da família em Curitiba. O principal intuito da empresa é que não se limitar a um único gênero de espetáculo. A equipe é versátil e adapta–se a qualquer trabalho artístico. Nos últimos anos tem participado de espetáculos nos mais diversos tipos de eventos, tais como: festividades de natal, carnaval, páscoa, dia das crianças, exposições, feiras, promoções comerciais, festas de aniversário, entre outros. O que equivale a dizer que do grande espetáculo à singela apresentação numa festa de aniversário, estamos preparados para realizá-lo com a mesma dedicação e qualidade.

Entre as principais participações em eventos, podemos citar: diversas apresentações no Estação Plaza Show, Shopping Total, Shopping Água Verde, Kia World Festival (Expotrade Pinhais), Supermercado Angeloni (lojas do Paraná e Santa Catarina), Sesc da Esquina, Sesc Praia, entre outros.

Além disso, desde 2006, com a lei de incentivo, foram feitos diversos projetos como: “80 anos do Palhaço Gafanhoto”; “A Magia do Circo”, “Queirolo: Circo e Cultura”, “Homenagem ao Mestre Chic-chic Jr.”, “Queirolo:  A Alegria Continua”, “Queirolo: Circo e Magia”, "Hoje tem Marmelada” (onde a família volta a se apresentar no Circo da Cidade, após 30 anos) e “Queirolo: Mundo Circo”. Essas apresentações foram todas realizadas nas escolas municipais de Curitiba e no Circo da Cidade, todas as apresentações de forma gratuita para todos os alunos e a comunidade, onde já atingiram um público de mais de 50 mil crianças, adolescentes e adultos.

Na Família Queirolo, são cinco gerações unidas por algo mais que laços de sangue, unidas pelo amor ao circo cambalhotas, palhaçadas, brincadeiras, são mais de cem anos de alegria, dedicação e muita emoção. A transmissão do saber de geração a geração é uma característica que o circo herdou, transmitindo a arte circense de pai para filho, trazendo à “tradição” da transmissão oral de seus saberes. Através deste saber transmitido coletivamente às gerações seguintes, garantiu–se a continuidade de um modo particular de trabalhar e de montar o espetáculo. Mais que uma história, representamos a tradição de uma família com mais de 100 anos de atividade circense de forma ininterrupta.

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